Reminiscências acerca da música
parte II: Like a rolling stone.
Blond Bitch strikes again! diz:
Você não vai continuar aquele post sobre música seu puto?
Krash diz:
Só pq você pediu assim com carinho.
Pois enfim, vamos lá... Onde eu estava mesmo? Ah sim! Eu falava sobre o meu violão decrépito.
Depois que eu cheguei à conclusão de que já podia tirar um mínimo de som com aquele pedaço de madeira carcomida, me restava procurar alguém que compartilhasse os mesmos sonhos de música, fama e garotas excitadas que eu. Teoricamente isso não é lá uma coisa muito difícil de se achar, convenhamos. Mas na realidade a coisa se mostrou diferente... Na minha escola era difícil achar alguém que levasse a idéia a sério. A maioria dos que tocavam algum instrumento já tocavam muito bem, o que fazia eu me sentir como um verme, ou tinha gostos bastante diferentes dos meus. Na verdade eu só gostava mesmo de punk, grunge e coisas do gênero.
É verdade. O Krash já foi um grunge de camisa de flanela e cabelo sujo.
Mas enfim, a menos que eu quisesse me contentar em tocar Legião Urbana, Cazuza e Raul Seixas no gramado do CEFET, eu teria que me virar pra achar alguém a fim de montar uma banda decente (ao menos nos meus moldes).
Então eu notei que meus próprios amigos do condomínio estavam começando a considerar a hipótese de fazer um som... E como tínhamos o gosto musical mais ou menos parecido, logo estávamos definindo o instrumento que cada um iria assumir.
Aliás esse foi um dos maiores problemas no início. A maioria de nós, pra não dizer todos, só sabia tocar violão - e olhe lá. A menos que quiséssemos montar uma roda de violeiros, teríamos que diversificar nossas habilidades. Quem era menos piorzinho no violão tocaria guitarra, que no caso éramos eu e mais um dos caras. O outro, que já tinha visto uma bateria de perto algumas vezes na vida, iria assumir as baquetas, e o último, que tinha uma certa capacidade de afinação seria o... hã... vocalista da banda. "Mas espere aí Krash!", dirão os mais atentos. E o baixista? Bom, ninguém nunca nem tinha segurado um baixo, e a bem da verdade, nem sabíamos pra que servia um. Confessem, a maioria de vocês não sabe diferenciar um baixo de uma guitarra, e não dá a mínima para ele na música. Aliás a maioria nem escuta.
Conosco não era diferente... A gente só sabia que tinha que ter um baixista nem que fosse pra, sei lá, manter a tradição. O problema é que achar um baixista é que nem procurar alguma coerência nas letras do Humberto Gessinger. Difícil mesmo.
Na primeira vez em que entramos num estúdio - muito tosco por sinal, mas depois detorno a esse assunto -, o negócio foi só guitarra, voz e bateria mesmo.
Mas essa situação ridícula acabou quando um outro amigo que sempre nos via... hã... tocando violão ficou a fim de entrar na banda. Claro que no começo ele queria ser guitarrista, mas a gente meio que obrigou condicionou a entrada dele ao baixo. O moleque então ganhou um de aniversário, junto com uma caixa amplificadora destrutiva, daquelas de implodir os tímpanos.
Pronto! Nossa primeira formação estava pronta! Nosso equipamento musical consistia basicamente em dois violões, um baixo eagle, um amplificador watson e duas baquetas. Legal, né não? A gente só precisava começar a ensaiar...
Aliás, já havia rolado um ensaio como eu falei acima. Mas foi tão... hã... ruinzinho que nem pode ser contado como ensaio. Eu prefiro dizer que foi um método divertido de gastar dinheiro. Pra começo de conversa o vocalista tinha ido no estúdio uma única vez, e não lembrava direito onde ele ficava. Não preciso dizer que nos perdemos no caminho e chegamos atrasados.
Nós não tínhamos instrumentos, e tivemos que tocar com os do estúdio mesmo... Que sendo bondoso, eram um pouco melhor que aquele meu violão. Não tínhamos a menor noção de ajuste de som, harmonia, técnica, nem nada. Aliás, nem repertório a gente tinha. Lembro que tocamos alguma coisa do Capital Inicial, alguma coisa do Engenheiros do Havaí, assassinamos uma música do Blur - que o vocalista inventou de esmurrar na guitarra e eu de cantar-, e eu tentei mandar "The man who sold the world" na versão do Nirvana e "Patience", do Guns 'n' Roses. Esta última foi a mais hilária, com direito a risadas do baterista no meio do assobio inicial.
E o melhor de tudo é que esse "ensaio" foi inteiramente gravado em K7. Juro, tivemos coragem. Procurei bastante a fita antes de me mudar de apartamento, mas acho que ela se auto-incinerou, de tanta vergonha.
Maaaas, com uma formação definida a coisa seria diferente. Ou talvez nem tanto.
Continua...