Ex-guitarrista do Pantera é assassinado por fã
Pois é... O velho Darrel era um grande guitarrista. Uma fatalidade terrível! Depois de ler essa notícia a alguns dias, eu fiquei pensando: "Porra, o que leva um fã a atirar no próprio ídolo?" Mas aí eu vi o comentário daquele cara inteligente pra caralho, o... ah não, estou confundindo. O comentário foi do Arnaldo Jabor. Segundo ele, o culpado pelo assassinato foi ninguém mais que o próprio guitarrista, que passou anos influenciando a cabeça dos jovens com suas letras violentas.
Arnaldo Jabor: A culpa é desses roqueiros violentos!
Depois de ponderar um pouco sobre essa declaração idiota, estúpida, e pq não dizer, tapada, pensei que talvez o nosso amigo Jabor tivesse um pouco de razão. John Lennon foi assassinado por um fã que dizia que o diabo em pessoa o havia ordenado a fazer aquilo, e que John Lennon era mau. O carinha do Judas Priest foi processado depois que um fã atirou num amigo e disse que as músicas da banda o haviam influenciado. Enfim, há trilhões de casos em que bandas são tidas como incetivadoras da violência e todo o tipo de conduta condenável.
E os tempos mudaram. Hoje, a maioria das bandas malvadas e terríveis já chegou ao fim. As que restam no cenário do rock, ou estão mudando o estilo ou passando fome. Black Sabbath acabou, Pantera acabou, e até o Metallica acabou - embora os músicos não saibam. A onda de hoje é o rock bonitinho, bem vestido e comportado, com letras construtivas e edificantes. The Calling, Hoobastank, CPM22 e Detonautas estão aí para provar.
- Então Krash?! Eu tenho uma banda perversa e maligna mas não quero ser assassinado ou processado! O que eu faço?
Calma gafanhoto! Krash, o seu amigo de todas as horas, vai dizer o que se deve fazer. Aqui no C&L os leitores já
aprenderam a ser roqueiros autênticos, mas dessa vez nós vamos falar sobre como transformar a sua banda depravada e satânica em algo mais... digamos... aceitável, e conquistar aquela fatia do público que realmente importa: aqueles que gastam muita grana com material medíocre.
- Então você vai me ensinar, Krash?! Como?
Simples, meu filho! Com o incrível:
Manual Cobras & Lagartos De Como Ter Uma Banda Bonitinha e Não Ser Assassinado Pelos Fãs
Puxa vida, Krash! Que jóia!
1ª Lição: O Nome
Mais do que o visual, o nome reflete a alma da banda. Então, se a sua galera grunge se intitula "Os Corvos Carniceiros do Apocalipse", ou "Membrana Mucosa", comece a pensar em algo mais aproveitável. É dado como certo que as patricinhas bonitinhas de 15 anos jamais vão pedir o cd da sua banda no natal, se elas tiverem medo de pronunciar o nome. Então, coloque toda a sua sensibilidade para fora e crie algo mais bonitinho, terno, e pq não dizer, meigo. Algumas sugestões que ainda não foram usadas:
- Os Pandas;
- Os Coalas;
- Porquinhos Rosados;
- Querubins Gordinhos
No caso da total falta de idéias, use uma sigla legal. Mesmo que ela não signifique absolutamente nada, não importa! Está super na moda. Exemplos:
- L.O.V.E. 657
- XJK 818
- K.915
- S = So + VT
Desse jeito, a sua presença no programa da Adriane Galisteu estará garantida! E nenhum fã vai reclamar que o nome é agressivo ou nojento! Genial!
2ª Lição: Visual de Respeito
Se ninguém tem coragem de chegar perto de você, como vão pedir autógrafos?! Aquela galera que no ano passado curtia CPM jamais vai se identificar com esse seu guitarrista que não toma banho há mais de três anos! Por isso, corte esse cabelo ensebado e troque esses trapos pretos que você veste! Tente incorporar um visual mais fashion ao som que você faz. Se depois te chamarem de viado, bicha ou similares, não esquente. Faça uma música sobre como o preconceito não te atinge. Isso ajuda a completar o repertório daquele seu próximo álbum.
Tá difícil de entender? Exemplos:
Visual Errado!
Visual Correto!
Se o símbolo da sua banda também é brutal e sangrento, troque por algo mais sensível e fofinho. Você vai ver como suas fãs mais extremadas não vão exitar em tatuá-lo pelo corpo!
Errado!
Certo!
3ª Lição: Expressando Sua Sensibilidade Através da Música
Se sua letras consistem em descrever categoricamente todas as formas de homicídio possíveis, ou declamar contra o sistema, pare com isso! Música reacionária e/ou raivosa não vende. Por isso, use seus neurônios para criar músicas que falem sobre relacionamentos complicados, amores impossíveis e esse tipo de coisa que o povo gosta. A sensação do momento é ser
emocore, emohard, melódico ou o caralho que seja... Desde que você demonstre todo o seu sentimentalismo contido. Não tem sentimentalismo contido? Pois finja que tem, porra!
Mas existem algumas regras básicas para esse tipo de música. Tipo, um cd geralmente tem entre 12 e 15 músicas, não é? Então por convenção, pelo menos umas 4 ou 5 dessas músicas têm que ser sobre amores não correspondidos. Umas 3 ou 4 têm que ser sobre romances que chegaram ao fim. O resto (aquelas músicas que só estão lá para encher lingüiça) pode ser um pouco mais barulhento pra todo mundo lembrar que você ainda faz rock.
Quanto às músicas que falam sobre amor, a maioria tem que conter algumas "palavras-chave", como:
- Perdão;
- Coração;
- Sonho;
- Viver
E use também umas frases feitas, tipo:
- Te encontrei;
- Sem você eu enlouqueço;
- Não há mais desculpas (opa, essa já tá meio batida)
Faça inclusive umas melodias simples, pq assim a galera que toca violão vai poder aprender suas músicas pra "agitar" aquele fim de festa.
Com essa fórmula, seus cds vão vender mais que ovo de páscoa nas lojas americanas. Sério.
4ª Lição: Se Comportando Decentemente
Se você é famoso por dar declarações polêmicas à imprensa, e arrumar brigas com outras bandas, está na hora de começar a se comportar direito. Os fãs de rock de hoje em dia não se impressionam mais com essas coisas, e querem que os artista sejam mais civilizados. Então, ao invés de dizer que o vocalista da banda x é um drogado filho da puta que adora aparecer, experimente dizer que ele é um cara brincalhão, e que merece todo o apoio pra parar com as drogas. Ao invés de comentar que o último cd da banda y é uma merda, diga que os caras se esforçaram para fazer um som diferente daquilo que os fãs estavam acostumados. Detalhe importante: na TV, não use palavrões. Reserve-os para agitar os shows... Todo mundo sabe que o público adora ouvir um "vocês são do caralho!". AH! E não esqueça de sempre agradecer quando for convidado a um programa de televisão. Diga coisas como "valeu aí pela oportunidade de divulgar nosso trabalho, é sempre bom vir aqui".
Seguindo à risca essas instruções, tenho certeza de que sua banda irá ganhar aquele "disco de platina dupla com diamante" no programa do Faustão (Não esqueça de agradecer). Sem falar que nenhum dos seus fãs vai querer te matar. Bom, mesmo que isso aconteça, não vão poder acusar sua banda de estimular a violência.
Este Manual é garantido por quem entende. Veja algumas declarações:
"Eu era tosco, brega, e cantava músicas ridículas. Depois de ler o guia do Krash... er... mantive apenas as músicas ridículas."
Jon Bon Jovi - Cantor metrossexual esquecido
"Eu vivia perdido, mas depois que li o manual do Krash, abri meus olhos e me converti. Aleluia!"
Rodolfo - Ex-roqueiro boca-suja
"Eu... cantava letras satânicas e... to-tomava muitas... drogas... Mas eu li o... manual do... Como é mesmo o nome dele? Krash! Sim... minha vida mudou. Cadê o controle remoto?! Shaaarooon!"
Ozzy Osbourne - Ex-príncipe das trevas
É isso! Este foi mais um serviço de utilidade pública do seu Cobras & Lagartos. Até a próxima!