Duas horas da tarde, sentado no banco do ônibus eu escuto o casal à minha frente conversando... Uma moça estranha e um cara meio nerd. Ela se lamenta:
- Ele não podia ter feito isso comigo... Ele acha mesmo que eu o trairia?
- Sim, ele acha.
- Ok, mas se eu fosse fazer isso, seria na minha casa? Na minha própria cama? Quero dizer... Aquelas fotos não significam nada... São montagens! Qualquer um notaria isso...
- Ele não notou.
- Mas são! Olha, você trabalha com photoshop... Sabe que esse tipo de coisa é fácil de fazer, não?
-Sei sei...
Nisso, eu já tava apurando os ouvidos ao máximo pra escutar os detalhes. Ela continuou:
- Ha se eu descubro o idiota que fez uma coisa dessas... Dava pra perceber que o meu rosto havia sido recortado daquelas fotos da praia, não dava?
- Dava dava...
- Pois é, mas eu não vou desistir. Vou continuar insistindo em falar com ele. Eu mereço uma chance de me explicar.
- É.
- E ele nem me atende mais...
Depois o cara nerd se despediu, e a guria das montagens continuou em seu lugar. Olhando pra trás, constrangida por ter notado que estava falando meio alto, ela bateu com os olhos em mim. E eu, fiz apenas aquela cara de "que coisa, não?" e sorri.
O incrível era mesmo a cara cínica dela, tentando convencer que as fotos em que ela aparecia sendo montada eram montagens... (sacaram o trocadilho? hein? hein?)
Pouco depois, quando eu paguei a passagem e fui sentar mais à frente, ouvi dois caras conversando. Um deles usava uma espécie de tapa-olho no lado esquerdo.
- Pois é, e nesse fim de ano eu vou recolocar a minha prótese ocular.
- O que houve com ela?
- Ela caiu. Sem mais nem menos.
- E quebrou?
- Os materiais de hoje são muito resistentes... Ela não quebrou não, pelo contrário! Saiu quicando como uma bolinha de gude!
- Foi mesmo?
- Foi. Isso aconteceu pela terceira vez.
- Você precisa analisar se o seu número de olho de vidro está correto.
E eu preciso parar de andar de ônibus.
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